O primeiro questionamento que deve ser feito é: o que é o valor em saúde? Quando colocamos o termo valor, qual a significância dele para a sociedade? Para todos os entes que interagem no sistema de saúde, que na verdade é um importante e extenso ecossistema.
O Valor em Saúde, é o resultado em saúde que importa para o paciente.
O que isso quer dizer?
Não é limitado apenas ao resultado clínico, em que as equipes de saúde tiveram sucesso. Exemplo: uma cirurgia de artodrese de coluna, que correu bem. Não houve nenhuma complicação durante o ato operatório, não houve complicação de pós operatório, a conta hospitalar foi montada maravilhosamente bem. Todos os insumos, materiais especiais, os OPME's, tudo acordado e usado corretamente.
Só que, o paciente foi submetido a uma cirurgia devido a dificuldades e limitações, no pós operatório essa limitação se manteve.
Ou seja, quando está se falando de valor em saúde, se fala de resultados de curto, médio e longo prazo. E esses resultados de longo prazo, são resultados que mudam a qualidade de vida do paciente para melhor. Por isso, o conceito do numerador é: resultados em saúde que importam para o paciente, analisado a cada real investido.
Equilíbrio de resultados assistenciais, que impactam positivamente na vida do paciente, usando recursos de forma racional, justa e que são necessários para a assistência segura ao paciente, nada mais e nada menos.
A voz do paciente é essencial.
Quando falamos em valor em saúde, estamos falando do paciente no centro, onde todos os processos, programas de governança clínica, que é o grande papel da auditoria em saúde, tem que estar organizado a partir dos interesses soberanos do paciente. Mantendo o paciente seguro, ajudando o paciente a se sentir melhor, garantindo um fluxo do cuidado oportuno e eficiente, que haja tratamento respeitável ao paciente ou seja equitativo. Que o paciente receba o cuidado certo e efetivo.
Então, quando nós pensamos nesse termo valor, temos que olhar pelo olhar centrado das necessidades e expectativas do paciente. Para formar e organizar o sistema de saúde.
Outra questão muito importante, é sobre a dificuldade de financiamento.
Sendo subfinanciados, é preciso ter uma melhoria em especial do sistema público financeiro. O apontamento aqui, é de que não basta apenas ser financiado, é preciso ter organização e propósito, de fazer com que o sistema funcione de forma efetiva, atendendo aos requisitos anteriores.
É preciso romper com o paradigma de que não se avança com resultado de entrega de valor ao paciente porque se falta recursos. É claro que se faltam recursos em determinados segmentos e aspectos, mas na sua grande extensão os recursos são mal utilizados.
Muitos estudos já demonstraram sobre isso e de que não é apenas uma realidade do Brasil.
Países considerados ricos e de alta renda, pertencentes ao OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), também enfrentam essas questões.
Segundo dados de 2019, 25% de gastos com saúde nos EUA foram considerados desperdícios. Que poderiam ter sido prevenidos e não realizados, para serem realocados no sistema de saúde, por exemplo equipando melhor os hospitais, remunerando melhor os profissionais de saúde.
Esse mesmo levantamento foi publicado pela OCDE em 2017, no qual 15% dos gastos e atividades hospitalares nos países membros da OCDE são atribuíveis às falhas de segurança assistencial.
É uma estimativa de trilhões de dólares que isso significa no mundo, trilhões desperdiçados que poderiam ter sido investidos em processos de entrega de valor ao paciente.
No Brasil, especificamente, temos 2 estudos feitos em 2017.
O primeiro, publicado no II Anuário da Segurança Assistencial Hospitalar no Brasil, em que foi analisado na plataforma Valor Saúde Brasil, do DRG Brasil. Foram mais de 500 mil altas hospitalares codificadas e 36.174 óbitos ocorridos, poderiam ter sido evitados se os eventos adversos graves tivessem sidos contigenciados e ocorridos numa ocorrência menor. Esses eventos consumiram mais de R$10,6 bilhões na saúde suplementar.
Ainda no mesmo ano, o Banco Mundial, publicou um estudo onde mostrou que de 100% possível no ponto de eficiência, a Atenção Primária no Brasil atinge apenas 63%. Já a Média e Alta Complexidade alcança apenas 29%. Correspondendo um desperdício anual de R$22 Bilhões.
Entendemos aqui, que esse não é um dinheiro que poderia ter sido economizado, muito pelo contrário. Se tivesse tido uma melhor organização, esse valor que foi desperdiçado por falhas, que não entregou os resultados que deveria ter sido entregues, poderia ter sido usado de melhor forma no sistema de saúde, gerando melhores resultados à população atendida e com menor desperdício de gastos, gerando assim a sustentabilidade.
O conteúdo deste post, foi retirado da palestra: Auditoria e entrega de valor na saúde, apresentada por Tânia Grillo, no Encontro de Auditores e Gestores em Saúde, promovido pelo Cequale no ano de 2022.
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